O Brasil caminha para o abismo?
EDITORIAL - Medidas de retomada da economia antes do pico da pandemia pode levar parte do país à milhares de mortes e ao lockdown total. Foto: reprodução The Economist
Por Paulo Campos dia em Eventos e Ações OTB

Agência Trabalhador – São Paulo
Paulo Campos é vice-presidente da Ordem dos Trabalhadores do Brasil
Enquanto pessoas e suas histórias se transformam em números na tela, eu observo incrédulo, pessoas transitando tranquilamente no shopping center aqui ao lado de casa. Mais que isso, vejo aglomerações em centros comerciais e ônibus sendo transmitidas ao vivo.
Que jogo político estamos inseridos que transformou vidas em moeda de troca?
Lembro que em 25 de abril de 1986 a usina de Chernobyl explodiu na União Soviética, e o que se sucedeu, com o governo minimizando a imensa tragédia através de notas que diziam: "houve um dano em um dos reatores nucleares e as medidas já foram tomadas", me parece com a posição dos governos brasileiros, em todos os níveis, adiantando, minimizando, distorcendo ou escondendo ações e informações que se transformariam em capital ou prejuízo político.
Estima-se que morreram 16 mil pessoas na URSS e cerca de 4 mil na Europa devido ao acidente de Chernobyl, em pouco tempo. No Brasil, a epidemia já matou mais de 43 mil pessoas, número que deve disparar nas próximas semanas com o afrouxamento das medidas de isolamento social.
A tragédia brasileira é maior que a soviética, muito maior. Enquanto isso, no tabuleiro em que as vidas da população são as peças, o presidente, governadores e prefeitos travam batalha que se torna ainda mais triste por desnecessária: cedendo à pressão federal que exigia imediata retomada da atividade econômica, autoridades estaduais e municipais promovem a reabertura no momento mais errado – que é quando está ativo o maior número de pessoas transmissores do novo coronavírus – e iremos todos sofrer as consequências desse embate político insensível e absurdo.
O Brasil caminha para o abismo. Sem dúvida estaremos, no final, com um dos maiores, senão o maior, número de mortos, número de famílias despedaçadas, número de sonhos interrompidos.
A maior desgraça será a nossa.
Governadores e prefeitos poderão, com razão, culpar o presidente. Afinal fizeram a reabertura da economia que ele tanto pedia e não deram atenção à doença que, afinal, é uma “gripezinha”, mas que importa isso?
E, com este resultado trágico, a economia - que poderia não ter sofrido tanto, caso medidas corretas de afastamento tivessem sido mantidas - e que já estaria se restabelecendo, ira para o fundo do poço com um inevitável lockdown total.
Será então, o fim de um governo atabalhoado, encrenqueiro, de imaginação fértil, inconsequente e de língua solta.
Mas, centenas, milhares de brasileiros não terão chance de assistir e suas famílias, não irão se importar com essa queda.