Editorial: Brasil de luto
Assassinato de 4 crianças em Blumenal gera indignação e leva à reflexão. Foto: ND+
Por Paulo Campos dia em OTB no Brasil
Agência Trabalhador – São Paulo
Paulo Campos é Vice-Presidente Nacional da OTB – Ordem dos Trabalhadores do Brasil
EDITORIAL: Com silêncio. Foi assim que recebi a notícia da morte de quatro crianças em uma creche na cidade de Blumenal. Não consegui acessar a emoção correta para aquele momento.
Raiva, tristeza, indignação e uma sensação de impotência. Eu era um misto disso tudo, me colocando, como pai, no lugar daqueles que tiveram de buscar os corpos de seus filhos mutilados a golpe de machadinha. A cena difícil de imaginar, aconteceu na vida real.
Podemos refletir, após este ataque, somando com a morte da professora estes dias, aqui em São Paulo, à facadas desferidas por uma criança de 13 anos, que a sociedade brasileira está adoecida.
Padecemos da mesma doença que acomete países onde cultura da violência está disseminada e cujo exemplo maior – até pela facilidade em conseguir armas – são os Estados Unidos.
Fosse lá, este rapaz doente e atormentado estaria armado com fuzis e pistolas adquiridos na esquina e, certamente, não seria quatro o número de mortes.
Fosse aqui mesmo, caso a política do governo anterior de disseminação armamentista se efetivasse, não seriam quatro os mortos em próximos casos, que acontecerão, é possível afirmar, se a sociedade brasileira não se empenhar em um debate de ampla frente, onde se discuta a prevenção seja com políticas de identificação de potenciais agressores, seja com inteligência das polícias.
Polícia nas Redes sociais
A polícia precisa monitorar de maneira ativa as redes sociais. Estes homicidas normalmente tem por objetivo a fama em seus grupos de internet onde se propaga a violência. Invariavelmente eles tem perfis onde espalham seus ódios, com fotografias e participam de grupos que compartilham de seus desvios de humanidade.
Há notícia que, foi detectado um grupo de quatro alunos que planejava matar crianças e professores em uma ação conjunta que aconteceria nas escolas onde cada um estudava, ao mesmo tempo. Este tipo de organização que precisa ser investigada pela inteligência da polícia.
Crianças, adolescentes e adultos que fazem postagens com conteúdo suspeito devem ser investigados, com tomada de providências que levem a sério ameaças deste tipo. Estas pessoas tem histórico, não praticam estes crimes hediondos de um dia para outro. O rapaz que matou esta criança, em diferentes ocasiões, esfaqueou o próprio pai, foi detido por porte de cocaína, esfaqueou um cachorro, compartilhava posts de apoio à comercialização de armas, especialmente aqueles produzidos pelo governo que fazia apologia ao armamento.
Imprensa
Por outro lado, a imprensa precisa fazer um pacto de nunca divulgar o rosto, o nome, ou qualquer característica que não seja a idade desses assassinos. Faz parte do desvio a busca pelo estrelato, pela fama. Querem justamente serem lembrados naqueles grupos dos quais faziam parte, servirem de exemplo para outro como eles, como os executores de outros ataques foram para eles próprios.
A imprensa, divulgando que nunca mostrará quem são, desestimulará em certa maneira, atos como este, tão triste, tão doloroso.
Agora, escrevendo, senti que extravasei uma parte da indignação, expiei em palavras, em sugestões o que não tenho como fazer de outra maneira. Quisera pudesse fazer mais, levar um acalento aos corações dos pais dessas crianças, mas, só podemos rezar, cada um ao seu modo, ou se solidarizar, para quem não é religioso.
A Ordem dos Trabalhadores do Brasil está sofrendo com estas famílias e tenho certeza que posso falar em nome de cada filiado, porque os conheço. Somos pais, avós, tios, mães que se uniram para tentar construir um país melhor para seus filhos e que lamentam, profundamente, a perda dessas nossas crianças.