Artigo - Polarização é desculpa
Tem se alastrado pelo país a falta de respeito. Foto: acervo OTB
Por Paulo Campos dia em Eventos e Ações OTB

Agência Trabalhador - São Paulo
Paulo Campos é Vice-Presidente Nacional da OTB - Ordem dos Trabalhadores do Brasil
Artigo - Todos nós, pobre povo brasileiro, vivenciamos, nos últimos anos, o degringolamento da ética na política. O universo das fakenews propiciou (e propicia) farta seara para disseminação de ideias que, quando não falsas, tendenciam opiniões, forjam comportamentos e afastam universos.
Exemplo evidente está no grande número de informações que prejudicaram o envio de ajuda aos irmãos gaúchos neste momento tão difícil que aquela população está atravessando.
Estas distensões políticas, insistentemente renovadas, especialmente pelos integrantes da extrema-direita, terminam por refletir nos comportamentos cotidianos.
Não que inexistam extremistas de esquerda. O comportamento constante, com temperos racistas, misóginos, homofóbicos e de intolerância religiosa é que não existia no Brasil. Esta visão de mundo surgiu nos últimos 5 anos e deve seu ápice com a presidência Bolsonaro.
É evidente que não há paz possível quando os atores deste campo político reagem com discursos ásperos a qualquer ação que contradiga seus dogmas (verdadeiros ou de conveniência).
Porém, mais que estratégia política – seja para manter ou conquistar eleitorado, seja para diminuir ou extinguir adversários – este comportamento tem se alastrado pela população em seu cotidiano.
Parece que houve uma espécie de autorização para cometimento de abusos. Pessoas não respeitam mais filas ou a idade das pessoas. Não respeitam o espaço de outros e sequer tem respeitado leis de trânsito (de um tempo para cá tem se tornado comum, por exemplo, não importando o fluxo da via, motoristas simplesmente manobrarem para retornar no meio da rua, sem procurar uma esquina ou um quarteirão para contornar e fazer a manobra com segurança).
É notório o aumento dos casos de feminicídio – um levantamento do Instituto Sou da Paz mostrou aumento nos casos de violência contra a mulher cometidos por CACs, grupo que teve o acesso às armas facilitado durante o governo Bolsonaro, já o Instituto de Estudos Socioeconômicos, INESC, afirmou que colaborou para o aumento da violência contra as mulheres, o desmonte das políticas públicas durante o mesmo período.
Outros casos sintomáticos foram o da influenciadora que creditou a calamidade do RS à homossexualidade do governador, cujo “fedor teria chegado às narinas de Deus” ou do prefeito catarinense da cidade de Balneário Barra do Sul que creditou à falta de igrejas e à presença de tempos de religiões de matriz africana o desastre climático.
O país precisa de um choque de realidade. Talvez toda essa tragédia no sul proporcione a essas pessoas uma oportunidade de aprender que as vidas são reais, a dor e as perdas são reais e que não é possível resolver problemas num imaginário fanatizado.
Que nossos amigos, parentes e vizinhos consigam tolerar as opções de seus próximos e que o Brasil volte à normalidade.
Gentileza gera gentileza.